terça-feira, 22 de maio de 2012

Purple Night Orchid                                   
Digigraph by Airton Sobreira

sábado, 5 de maio de 2012

Conto: O Beco

O Beco


Naquela madrugada havia poucas pessoas na rua, via-se apenas a silhueta de alguns frequentadores de bares, jogando conversa fora, entornando copos de cerveja, e esboçando gestos de indignação. Sobre o que falavam, não fazia a menor ideia, a não ser que entrasse num desses bares, mas ai quebraria o mistério do silêncio daquela madrugada fria. Preferi ficar observando do lado de fora, onde tudo parecia distante e vazio. Andando, pensando, e ouvindo meus passos, sem ao menos querer chegar logo ao meu destino, deparei-me com um beco. Sabia que não era um lugar mais indicado para entrar, mas algo ali chamou minha atenção, e por mais que relutasse não conseguia tirar de meus pensamentos dali. O que deveria haver de tão extraordinário assim, que levasse a arriscar minha integridade física, num simples beco sombrio? Senti que algo se moveu, minha alma gelou, e fiquei paralisado por uns dez intermináveis segundos.
Voltei a respirar quando vi que era apenas um gato, mas olhando com mais atenção, percebi que não se tratava de um simples gato de rua. Seus olhos estavam atentos para um ponto na calçada, e seu rabo balançava lentamente, e de repente seus olhos se voltaram para mim, tão silenciosos como aquela madrugada. Vi logo de que eu era um intruso, e estava tirando sua concentração, mas não isso, ele apenas queria me mostrar algo, parecia que lia meus pensamentos, e eu os dele. Sem muito o que questionar, voltei a olhar aquele ponto em que o gato estava fitando antes de interrompe-lo.
Imaginei logo que se tratava de um roedor, porém fui surpreendido com um rato florescente, que ficou parado entre nós, sem demonstrar medo.
Será que algum desocupado pintara com tinta luminosa esse roedor, ou embaixo desses encanamentos pode haver elementos radioativos? O rato parecia tão confiante, destemido, e consciente de seu estado, e ai deu alguns chiados e voltou para o esconderijo.
Sai dali sem ter as respostas cabíveis para o fato inusitado, mas agora procurava voltar mais rápido possível para o apartamento apressando os passos. Tão logo que entrei na sala de estar, tirei os sapatos, coloquei os chinelos, pus o pijama, escovei os dentes e fui me deitar. Fique com aquele rato luminoso em minha mente, mas logo veio o sono e sonhei com um ordinário rato cinza sendo devorado pelo gato do beco escuro.
Ao acordar na manhã seguinte, senti que o mundo real pode entrar dentro do mundo dos sonhos, e vice-versa.

por: airton parra